O carryover de herbicidas, também, é comumente chamado de residual de herbicidas, que
consiste num fenômeno em que as moléculas de herbicidas ou subprodutos da degradação
dos mesmos permanecem ativos no solo além do ciclo da cultura na qual foi aplicado causando
danos nas culturas posteriores.
Os danos “injúrias ou fito” podem ser visíveis, em algumas situações matar as plantas, como
podem ser invisíveis “fito oculta” reduzindo a produtividade ou a qualidade dos produtos
comercializados, principalmente, em hortaliças que são extremamente sensíveis aos
herbicidas. Em hortaliças, com alto valor agregado, os prejuízos devido ao carryover podem
chegar à ordem de milhões de reais.
Em alguns casos, o herbicida apresenta tempo de meia-vida de alguns dias, indicando que
seria um produto seguro do ponto de vista de carryover, no entanto, ocorre o fenômeno de
carryover promovido pela atividade dos metabólitos da degradação da molécula de herbicida
que pode ser tão tóxicos quanto a própria molécula de herbicida.

Figura – Injúrias causadas pelo carryover de tembrotione em tubérculos de batata “Atlantic”
após cultivo de milho. Fonte: https://doi.org/10.4025/actasciagron.v40i1.35355
Porque alguns herbicidas persistem mais e outros menos no solo?
A persistência é dependente dos principais fatores: dose, atividade e diversidade microbiana do solo, umidade e temperatura do solo que modulam a atividade juntamente com a disponibilidade de carbono e energia representados pelo teor de matéria orgânica do solo. Também, depende das propriedades físico-químicas da molécula de herbicida, como por exemplo, herbicidas que possuem átomos de cloro, bromo, flúor ou iodo são mais persistentes devido à grande dificuldade dos microrganismos em quebras as ligações desses átomos na molécula de herbicida.
O que fazer para evitar o carryover de herbicidas?
No meu ponto de vista, a primeira estratégia é planejar o uso de herbicidas a longo prazo e utilizar somente herbicidas comprovadamente seguros, ou seja, que apresentam risco mínimo de carryover.
Segunda estratégia – planejar a rotação de culturas para que explore ao máximo a
capacidade de fitorremediação do solo, ou seja, as plantas promovem a “limpeza” do solo
extraindo os resíduos de herbicidas via absorção radicular que podem ser metabolizados,
degradados pelo complexo enzimático das plantas e até mesmo compartimentalizados no vacúolo das células. As plantas fazem a remediação mais eficaz quando associados aos microrganismos explorados na terceira estratégia.
Terceira estratégia – usar microrganismos para remediação de herbicidas no solo, os quais são responsáveis por cerca de 80% degradação das moléculas de herbicidas no solo. É conveniente usar os microrganismos com cobertura vegetal do solo, pois, a atividade microbiana mais próximas das raizes (rizosfera) das plantas é cerca de 20 a 30 vezes maior em relação ao solo não rizosférico. De acordo com pesquisas do IPACER -Instituto de Pesquisa Agrícola do Cerrado, as bactérias tem se mostrado mais eficientes na degradação de herbicidas no solo.
Quarta estratégia – usar microrganismos ou biostimulantes que, comprovadamente,
promovam maior crescimento de raízes e aumentam a tolerância das plantas ao estresse dos possíveis resíduos de herbicidas no solo.
Para que possamos conviver melhor com a questão de carryover é de grande importância o
planejamento e escolha de herbicidas de mínimo potencial de carryover e a adoção de
estratégias preventivas aos danos às culturas mesmo que seja ocultos.